terça-feira, 14 de junho de 2011

Já é carnaval metrópole (Jornal A Tarde SSA BA 6.3.2011)












Encruzilhadas da comunicação, mal-entendidos, mercados, cidades e espetáculos, geram metrópoles. Salvador da Bahia é fruto disso. Questão: mas já será mesmo uma metrópole, com gente, tempo e dinheiro para as artes do espetáculo?




Há dois tipos dessas artes: as que são apreciadas ao vivo (dança, teatro, performance, circo, ópera e música – de rua e salão) e as outras, via cinema, rádio, televisão e telemáticas. Quanto aos profissionais, que, segundo Duvignaud, trabalham de modo contínuo, regular e permanente, com (acrescento) expertise e marco legal, além de viverem de seu trabalho, em Salvador, sabemos que são bem raros nas artes do espetáculo ao vivo. Mas há uma exceção maior, a dos bem numerosos profissionais da música, e outra menor, a dos técnicos do áudio-visual. Os demais artistas, a maioria, não são profissionais nesses termos, ainda que nenhum deles nasça, estréie.




Salvador é metrópole da música por já possuir mercado além fronteiras, graças, em boa parte, ao carnaval. O que a literatura e a música divulgaram da cultura baiana, atraindo, entre outros, como residentes, Verger e Carybé, além de também visitantes, faz o carnaval agora, atraindo turistas. Outra questão: carnaval é cultura ou turismo?




Recordo-me do carnaval baiano (só de Salvador?) de 1972, da Caetanave e das publicações de contra-cultura Bondinho e Verbo Encantado (jornalzinho que Álvaro Guimarães pensou e que, comigo e outros, realizamos). Ali se encontra o medo de Caetano, pelo sucesso de suas músicas para trio elétrico, de estar talvez ajudando à destruição da cultura baiana (só de Salvador?). Ali também se percebe nossa cultura como a arte de se Viver Bahia, uma entre tantas artes. E Mautner comenta esse medo como destino e posição trágicos (no sentido de sem retorno), terror e maravilha. Vale ler a sua e as outras Entrevistas Bondinho
(Ed. Beco do Azougue, 2008).




Orlando, da Caetanave, tentando junto às secretarias da Cultura e do Turismo repor seu trio no carnaval de 2011, me faz recordar o atual Secretário de Estado de Turismo, comigo na equipe da Feira da Bahia (São Paulo, 1974), com arte experimental, comercial, erudita e "folclórica", sonoras de Smetak, arte sacra negra e comercialização de artesanato, literatura e comida. Da presença do poeta Rodolfo Coelho Cavalcante, dos dançarinos Gelewski e Morgan e do Teatro de Cordel de João Augusto, a uma antologia de poesia baiana, por Antonio Risério, até o cinema de Glauber e Meteorango Kid, àquela feira, da Bahiatursa (a FUNCEB ainda não existia), faltava muita coisa, como o futuro projeto Bahia Singular e Plural, mas se confirmava nosso trágico e inexorável destino, o de viermos uma Bahia da cultura E do turismo.




Do ponto de vista de gestão, pode-se ampliar as repartições ao infinito. Mas, do ponto de vista conceitual, como pensar o Festival de Lençóis e o Carnaval de Salvador como encargo de uma secretaria ou de outra, turismo ou cultura, respectivamente?




Aliás, o carnavalesco Verbo Encantado, de tantos Zés, como o Sérgio Gabrielli de Azevedo (hoje Petrobrás) e o Cerqueira (que fez a política cultural do Polo Petroquímico, o Troféu Caymmi, os prêmios de literatura e arte, inclusive o de teatro e os da Academia de Letras da Bahia), nada tem a ver com o que circula na internet sobre financiamentos públicos do Vila Velha e do Teatro XVIII. Embora seja fato que foi o decisivo apoio do poder público, para além dos também necessários editais, que, em parceria com artistas, viabilizou sua existência. Aliás, também dos anos 70, lembro da Comissão Permanente do Ciclo de Festas – COPECIFE, onde polemizamos e aprovamos os carnavalescos Filhos de Gandhi, em seus 30 anos, pela primeira vez na Lavagem do Bonfim de 1979, fazendo cumprir nosso destino trágico (sem retorno), de parceria público-privada e novas tradições.




Essas parcerias, cultura, turismo e carnaval, são o destino! Mas, o drama da encruzilhada é se ter educação gratuita, obrigatória e de qualidade, e planejamento de infra-estrutura integrado. Depois, veremos se já há metrópole na Bahia.

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