quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Scapino e a bicicleta...

Cresci no bairro de Roma, na península de Itapajige, em Salvador, Bahia, nos anos 1950. Nossa casa, na Rua Barão de Cotegipe, ficava já bem no Largo de Roma, uma de duas pracinhas então separadas por uma fábrica de óleos vegetais, uma padaria (de Seu Eládio), uma oficina de veículos e um terreno baldio, onde se armavam parques, circos e acampamentos de ciganos. Após 1970, quando saí de lá, as duas pracinhas, o terreno baldio, a fábrica, a padaria e a oficina foram transformadas numa nova (e grande) Praça de Roma. Nela, sobressaem a Igreja e o Hospital de Irmã Dulce (este já existia), uma garagem de ônibus (o velho SMTC, na esquina da Rua Barão de Cotegipe e da Avenida Fernandes da Cunha, na pracinha onde ficava nossa casa - esta hoje AEPI) e, ainda, o Hospital PAN São Jorge (antes só o nome do santo)...

A atual Igreja era o Cine Roma, que eu frequentava toda semana. Quando ganhei uma bicicleta, ainda com as duas rodinhas para assegurar o equilíbrio de crianças iniciantes, fui me exibir defronte do Cinema, mas caí numa curva mal controlada e recebi grande vaia e apupos dos presentes. Nunca mais subi numa bicicleta...

Muito depois, eu já com mais de 30 anos, em Minneapolis, na Universidade de Minnesota, onde então cursava meu Master of Fine Artes em Interpretação Teatral, após mais uma das audições obrigatórias, fiquei feliz ao saber ter sido selecionado para importante papel na montagem de Scapino, uma adaptação do clássico de Molière. Mas, também, fiquei desesperado ao saber que eu deveria abrir o espetáculo, circulando pelo palco de bicicleta (e entre mesas de um restaurante), saindo de cena por uma porta de duas bandas (daquelas de filmes de cowboy). Disse logo que eu não poderia fazer aquilo. Então, resolveram me designar um 'bike coach', com quem todas as manhãs eu passei a praticar bicicleta num estacionamento. Sofri, mas aprendi o suficiente para fazer (bem) o espetáculo (recortes abaixo). Só em uma das apresentações, para sair de cena pela tal porta de duas abas em balanço, eu precisei de ajuda de um colega (John Loprieno, que viria a fazer sucesso em soap operas nos EUA)...

Achei-me, a partir daí, curado do trauma da infância. Alguns anos depois, com um amigo francês, na região do Rio Loire, na França, resolvi ir a um supermercado próximo, de bicicleta, por uma pequena estrada, bem pavimentada, mas cheia de curvas. De início, tudo se passou bem... até vir um carro e eu perder o equilíbrio... perdi, perdi... e jamais de novo voltei a montar uma bicicleta...

O que na vida eu não sei como fazer, ensaiando, em cena, eu posso fazer bem, mas, mesmo repetindo, na vida, eu volto a não saber...






quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Baiano vira francês em peça de Shakespeare nos EUA

Em 1979, a convite de Romélio e Dulce Aquino, com as bènçãos de Rolf Gelewsky, comecei a dar aulas na UFBA, de Filosofia da Dança (licenciado em filosofia, ex-aluno de Romélio, ex-dançarindo de Dulce em desfile de Pedro Karr, aluno da Casa Sri Aurobindo, espectador e amigo de Rolf)... Logo fui trabalhar com Dulce e Ernst Widmer na Coordenação Central de Extensão, para o Festival de Artes etc...
Em 1981, ganhei bolsa LASPAU Fulbright e segui para Master of Fine Arts em Interpretação Teatral na Universidade de Minnesota, pelo mesmo programa que também levou a fazerem mestrado nos EUA Deolindo Checcucci, Lia Rodrigues, Harildo Deda, Yeda Maria, Maria Adair, Jamison Pedra e outros artistas brasileiros...
Meus primeiros papeis nos EUA foram de soldado francês (cena de alívio cômico, de estrangeiro que fala 'engraçado', o que Aristóteles recomendava se evitar na tragédia...) e de ajudante de ordens mudo numa peça de Shakespeare: Henry V... 'nós poucos, felizes poucos', na batalha de Agincourt...


terça-feira, 29 de novembro de 2011